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Relacionamentos (ensaio)
 
Os Relacionamentos interpessoais são relacionamentos entre o “eu” e o “outro”. Onde se estabelece uma dialética na qual o “eu” define o “outro” e vice-versa. Desde o nascimentos passamos por diversas fases do desenvolvimento da consciência. Do surgimento da consciência a partir do inconsciente (uroboros), as outras fases: matriarcal, patriarcal, alteridade, etc. Onde poderíamos observar o desenvolvimento da consciência e dos relacionamentos mais significativos quando crianças com nossos cuidadores iniciais (mãe e pai, ou similares), à adolescência e fase adulta, onde nos relacionamos com o gênero opostos (em geral, analisando os relacionamentos heterossexuais).
 
 
 
Partindo do pressuposto de auto definição através do conhecimento do outro e vice-versa, supondo então que para o ser humano ser humano é importante o convívio e relacionamento com outros da sua espécie. E que se pode aprender não só do outro mas de si mesmo quando analisamos as relações focando em si mesmo para obter autoconhecimento. Afinal, nesta dialética só seria possível o entendimento do “outro” se houver auto-conhecimento de si próprio, o “eu”. Como o ser humano se baseia em projeções há uma tendência de observar tudo a partir do “outro” e dificuldade de mudar o foco para si mesmo. Mas, tudo nos é espelho. No entanto, uma boa razão é que mesmo que se pudesse enxergar o “outro” com menos projeções ainda assim, continuaríamos conosco para o resto da vida, sendo responsáveis por nós em primeiro lugar, e principalmente responsável pela própria felicidade e desenvolvimento da consciência, o que também não seria possível se responsabilizar pelos conteúdos dos “outros”. Por tanto, o “outro” é importante para o “eu” e o “eu” é fundamentalmente nossa responsabilidade.
 
 
 
 

Mas, não é tarefa fácil tirar lições de crescimento, autoconhecimento e ampliação da consciência. Envolve trabalho, empenho, dedicação, valorização, equilíbrio, sensatez, objetividade e muita energia. Ás vezes a ajuda profissional é indicada para auxiliar nos impasses, tanto na análise dos relacionamentos parentais (psicoterapia familiar), como da relação de cônjuge (psicoterapia de casal), como dificuldades particulares (psicoterapia individual).

 
 
 
Dificuldades de relacionamentos envolvem a conjunção e interatividade de pelo menos dois universos psíquicos. Há inúmeros jogos e dinâmicas entre os sujeitos, de controle, domínio, poder, manipulação, padrões, métodos funcionais ou não, etc. Baseados em geral em sentimentos e dinâmicas inconscientes de dependência, carência, solidão, inferioridade / superioridade, medo, insegurança, responsabilidade / irresponsabilidade, etc.
 
 
 
 
A natureza nos “prega uma peça” quando na fase adulta da alteridade, nos acomete com a paixão, alta projeção de animus e anina, e nos encantamos e nos iludimos ofuscados, quase não se vê o outro, mas muito do que se almeja de si mesmo, e das projeções idéias arquetípicas. Paixão é “patos”, extremos, nos encantamos nos iludimos, e criamos forte vinculo com o “outro”. Muito dos nossos conteúdos e qualidades boas ou não se tornam mais nítidas neste estado, o que pode ser fonte de autoconhecimento importante. As relações podem ser um forte motivador, como um grande empecilho, pois, os complexos também inflamam com a grande energia mobilizada. Os conteúdos ficam mais exagerados, intensos.
 
 
 
 
 
Mas, as dificuldades de relacionamento vão além da fase da paixão, assim como há relacionamentos que podem nunca ter havido paixão, apenas uma admiração, ou vinculo parental. E a relação de cônjuge “morna” sem intensidade pode ser também indicativo de dificuldades de crescimento. Da mesma forma que os relacionamentos extraconjugais podem indicar uma necessidade de se vivenciar algo que não se encontra na relação atual. Diferente do “ficar”, em que se visa apenas à satisfação do desejo imediato, sem compromisso, ou vinculo superficial.
 
 
 
 
 
Voltando as relações amorosas entre cônjuges. Podemos verificar que em geral se vivem processos parecidos, ou arquetípicos, apesar de todos os apaixonados acharem que vivem uma história única, se observarem bem, verão que as mesmas experiências outros casais também vivenciam. Então, nessa história poderíamos começar pela paixão onde a projeção de conteúdos arquetípicos positivos são intensos, ou seja, o casal passa a viver o “príncipe” e a “princesa”, e a vida mais parece um conto de fadas ideal. O outro fica imbuído de uma aura encantadora que nos liga em um vínculo muito forte. Tudo é intensificado por essa energia. Sentimos a vida pulsar nas nossas veias. A alegria é intensa, a solidão magicamente desaparece. Coincidências comprovam que o universo conspira a nosso favor. É a fase mais prazerosa, como um dependente químico no uso da sua droga favorita. A química cerebral altera ao se ver o sujeito por quem se sente paixão. Quem nunca sentiu um frio na barriga, ou tremor, ou ansiedade, ou confusão mental ao ver a pessoa por quem sente paixão se aproximar? Ou o prazer de ter nos braços o ente amado?
 
 
 
 
 
Como no âmbito da paixão tudo é intensificado os complexos também se sobrepõem. E nossa parte individual é exposta, pois são os complexos que nos tornam indivíduos únicos. Logo, qualidades positivas e negativas aparecem. E com o tempo a paixão passa, e pode se transformar em projeção de outro tipo de conteúdo sombrio. E o ser a quem nos encantamos positivamente passa a ser encantado negativamente. O “príncipe” vira “sapo” e a “princesa” vira “bruxa”. Desencontros, desavenças, desentendimentos, dificuldade de dialogar, insegurança, etc. A roda se inverte, e tão intenso como foi vivenciar o paraíso nas projeções positivas, onde o “outro” era tudo que poderíamos imaginar de melhor, acabamos conhecendo agora o inferno, onde nossos maiores medos submergirão a nossa frente. Ainda pouco se consegue ver do “outro”, tudo é espelho, mas essa lição poucos alcançam. É mais comum se procurar o culpado, que costuma ser o “outro”. Pois é muito convincente ver tudo partir do “outro”, e é difícil observar que temos muito de nos mesmos na relação, e inverter a visão para si mesmo, introjetando, obtendo aprendizagem, autoconhecimento e consciência das experiências mesmo que dolorosas.
 
 
 
 
 
Mas, quem sobrevive às peripécias da paixão pode descobrir um tesouro. Pois, ao final das tempestades das projeções positivas e negativas, pode se descobrir a si mesmo mais intensa e profundamente, se definindo melhor a si mesmo, o “eu”, e então poder recolher a cortina das projeções e descobrir alguém que sempre esteve ao lado, o “outro” com suas qualidades e defeitos assim como nos mesmos. Introjetando as projeções crescemos, numa visão mais objetiva e consciência mais ampla, mais próximo do sentimento do amor. Temos a oportunidade de realizar diversas transformações, de funções transcendentes, integração de polaridades, e formações de símbolos, ampliação da consciência. Para uma melhor integridade e individuação.
 
 
 
Nilton Kamigauti - 2010
 
Referencias
 
 
 
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