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Ciúme e Traição - Reflexões
 
Quem nunca sentiu ciúme alguma vez na vida? Ciúme de bens de pessoas. Não é um sentimento agradável, mas no mostra o quanto valorizamos algo ou alguém. Dependendo da intensidade pode nos chamar a atenção para o valor daquilo que gostamos e tememos perder. Na dose sadia se diz que o ciúme é o guardião da relação, porque nos faz valorizar o que admiramos o que gostamos. Mas, em exagero pode nos fazer sofrer de forma patológica. Quem nunca assistiu ou viveu uma cena de ciúme onde se “perde a cabeça”, e os complexos nos possuem?
 
 
 
O ciúme pode estar relacionado a fantasias de perda, medo de perder, onde a pessoa procura se defender do prejuízo imaginado futuro, gerando ansiedade, preocupação e ativando complexos que o fazem agir de forma distinta do que normalmente faria.
 
 
 
 

Também são comuns as fantasias de traição principalmente quando relacionado o ciúme aos relacionamentos amorosos. O medo de perder aliadas a fantasia de traição ativa complexos muito dolorosos e quem sofre deste mal costuma se sentir acuado em um beco sem saída. Porque as projeções no outro são intensas e o poder de discriminação do ego fraqueja.

 
 
 
Cada um de nós contém complexos particulares que provém da nossa história pessoal de vida. Mas, também todos nós compartilhamos uma mesma estrutura humana, genética (biológica) e arquetípica (padrões psíquicos). Então, genericamente poderíamos questionar aquele que sofre pelo excesso de ciúme e fantasias de traição, se não estaria ele mesmo de alguma maneira traindo seu desenvolvimento pessoal, sua vida? Responsabilizando o outro pela própria felicidade ou infelicidade e deixando de ter responsabilidade pela própria vida? E mais, se vivermos isso em algum momento da vida o que precisamos aprender com isso afinal?
 
 
 
  “Um olhar pode ser mais traidor que se deitar com alguém” (C. G. Jung). Há uma grande variedade de tipos de relacionamentos. Independente da moral vigente, não seria sensato julgar o modo que cada um escolhe para se relacionar. Qualquer que seja o tipo de relacionamento que se vive os complexos estarão atuando conscientes ou não. E quando inconscientes podemos aprender mais sobre nós mesmos. Por exemplo, Há pessoas que não “fecham as portas” para outras possibilidades de relacionamento. Talvez por insegurança em investir em um único compromisso. Ou não se envolve por medo de ser rejeitado, e acaba perdendo por não se envolver, ou rejeita antes de sofrer a rejeição. Ou porque têm necessidade de desenvolver, viver outras áreas da vida que não consegue na relação vigente. Ou não se envolve por não querer perder outras oportunidades de vida, ou por não estar disponível a viver um aprofundamento com aquela pessoa, pois para que uma relação possa se desenvolver é necessário que ela se feche em si mesma, como forma de preservação, cuidado, gerando um terreno propicio para o aprofundamento na relação com o outro e em si mesmo, e conseqüentemente desenvolvimento de ambos.  
     
  Mas, para que isso ocorra as escolhas tem uma porção de projeção inconsciente que nos foge ao controle, e nos deparamos com certa sensação de impotência, pois para que uma relação comece se faz necessário o encanto pelo outro, a paixão, cheia de projeções inconscientes, que nos fascina, nos liga ao outro por ser parte de nós mesmos. E quem já se apaixonou sabe, que não se escolhe por quem se vai se apaixonar é um processo de grande parte inconsciente.  
     
 
Com o passar do tempo e aprofundando no relacionamento a paixão pode se transformar em autoconhecimento e amor. Isso implica na dialítica do conhecimento do outro e do eu. O relacionamento como autoconhecimento e conscientização. O outro nos ajuda a definir o eu, e vice-versa. O fim das paixões pode ser dolorido por se perder ilusões, mas só se desilude quem já estava iludido, e a possibilidade de se introjetar o que se havia projetado no outro é a possibilidade de se reconhecer mais das nossas próprias características, e se auto-completar em uma maior integração pessoal. A integração é um caminhar aprendendo a arte de amar. Amar a si mesmo e aos outros, livre das ilusões.
 
 
 
Nilton Kamigauti - 2009
 
Referencias
 
 
 
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