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Tao
– A Suprema Unidade |
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O Tao que
pode ser pronunciado não é o Tao eterno. O nome que pode ser proferido não é o Nome eterno. Ao princípio do Céu e da Terra chamo “Não-ser”. À mãe dos seres individuais chamo “Ser”. Dirigir-se para o Ser leva à contemplação das limitações espaciais. Pela origem, ambos são uma coisa só, Diferindo apenas no nome. Em sua Unidade, esse Um é mistério. O mistério dos mistérios é o portal por onde entram as maravilhas (TZU, 1987, p. 37) |
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A
figura 2 representa um círculo com um ponto no centro. O círculo
fechado representa a forma, a totalidade e ao mesmo tempo o ponto representa
o centro, a unidade. Por definição o Tao não é definível, muitos autores mesmo tendo tal conhecimento tentaram de alguma forma comentar a respeito do que vem a ser o Tao. “O Tao que pode ser pronunciado não é o Tao eterno.” (TZU, 1987, p. 37). Sabemos portanto que não é possível apreender o Tao em sua magnificência, ou totalidade, o que podemos é tecer singelos ensaios a seu respeito, já sabendo que por mais que se tente o Tao sempre estará além de qualquer explicação. Assim, irei circundar a idéia do Tao sob alguns aspectos. |
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Tao
é a Realidade Insondável, o Brahman Absoluto, a Divindade
Transcendente, que como tal, não é acessível ao nosso
conhecimento finito. Tao, o Ser Ontológico, ultrapassa todo o nosso
conhecer lógico. Só conhecemos a Divindade Transcendente
na forma do Deus Imanente. O nosso conhecer finito finitiza o Ser Infinito.
(ROHDEN, 1988, p. 24) |
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O
Tao enquanto unidade e o Wu Chi enquanto vazio, poderiam resultar em um
composto matemático como sugere RODEN (1988, p. 24-25), |
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Em
linguagem de matemática diríamos: o “1” representa
o Todo da Essência Infinita; o “0” simboliza o Nada
da não-Essência; mas, se colocarmos o Nada da não-Essência
do lado direito do Todo da Essência, resulta o Algo da Existência:
10, 100, 1000, etc. |
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Seguindo
o raciocínio anterior sobre o Wu Chi, não-existência,
podemos dar continuidade afirmando que o Tao se refere à existência,
“Ao princípio do Céu e da Terra chamo “Não-ser”.
À mãe dos seres individuais chamo “Ser”. (TZU,
1987, p. 37). Mas isso não estaria totalmente correto, pois o Tao
também permeia a esfera da não-existência, já
que tudo que existe provem do Tao, |
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Falando
do Tao, Lao-Tzu preocupa-se em afastar tudo o que possa lembrar algum
tipo de existência. O Tao está num nível totalmente
distinto de tudo quanto pertence ao mundo dos fenômenos. É
anterior ao céu e à Terra; não é possível
dizer de onde vem; é anterior ao próprio Deus. Ele se baseia
em si mesmo, é imutável e está em eterna circulação.
É o princípio de céu e da Terra, isto é da
existência espacial e temporal. É a origem de todas as criaturas;
outras vezes é designado também como o ancestral de todos
os entes. Há um antigo versículo que o compara ao espírito
do vale vazio, o misterioso feminino que flui ininterruptamente semelhante
a uma queda-d´água e cuja porta misteriosa é a raiz
do céu e da Terra. (WILHELM em TZU, 1987, p. 129) |
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Tao e Wu Chi de certa forma se confundem, pertencem a uma zona difícil de se distinguir por isso, muitas vezes soam como conceitos similares. Segundo o mestre Liu Pai Lin, o Tao é a energia primordial, “Tao e Wu Chi, são muito difíceis de se definir, mas tentamos definir como aquela energia primordial, aquele vazio primordial.” (LIN, [entre 1988 e 1994].)
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Mestre
LÜ DSU dizia: àquilo que é por si mesmo denominamos
sentido (Tao). O sentido não tem nome, nem forma. É o ser
uno, o espírito originário e único. Ser e vida não
podem ser vistos, está contido na luz do céu. (JUNG, p.
97, 1986b) |
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Podemos ver o Tao enquanto uma filosofia de vida, visão de mundo, postura diante da vida e da natureza. Na análise do ideograma Tao (Figura 3) o mestre Liu Pai Lin diz: “podemos entender o Tao como “seguir o próprio caminho”, isto é estar de acordo com a natureza.” (SAÚDE, 1994, p.16)
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Se
perguntarmos agora o que Lao-Tzu queria dar a entender por Tao, teremos
de recorrer a vivências místicas para chegarmos à
compreensão. Ele é semelhante a uma concepção
como a que encontramos também no Budismo Mahayana. Através
do recolhimento e da meditação, chega-se ao estudo de sarmadhi,
no qual psique ultrapassa o consciente e submerge nas esferas da superconsciência.
Quando são genuínas, essas vivências levam, de fato,
para profundezas do ser que ultrapassam a totalidade do mundo fenomênico.
A forma exterior dessas ocorrências é conhecida por determinados
processos da Parapsicologia e tornou-se objeto de pesquisas científicas.
Mas a vivência do próprio Tao jamais será objeto da
pesquisa científica. Trata-se, no caso, de um arquifenômeno,
no mais elevado sentido, e que só podemos admirar respeitosamente,
mas não definir ou sondar. Com a experiência do Tao se passa
o mesmo que com todas as experiências imediatas. [...] Toda a Parapsicologia
não pode nos proporcionar essa vivência; para compreendê-la
é preciso ter passado por ela. Mas, para quem tem uma vivência
correspondente as palavras de Lao-Tzu são imediatamente compreensíveis
e adequadas pra fazê-lo progredir em seu caminho. (WILHELM em TZU,1987,
p. 131)
Meu amigo McDougall tem um aluno chinês e perguntou-lhe: “O que é Tao?” Atitude tipicamente ocidental. O chinês explicou-lhe o que era, e o professor replicou: “Ainda não entendi”. Aí o aluno foi até à sacada e perguntou: “O que o senhor está vendo?” – “Uma rua, casa, gente andando, bondes, movimento”. “O que mais – “Árvores”. “O que mais?” – “Mais à frente há uma colina”. – “E o que mais?” – “O vento está soprando”. O chinês abriu os braços e disse: “Isso é Tao”. [...] Tao pode ser tudo. Uso uma outra palavra para designá-lo, mas ela é muito pobre. Chamo-a sincronicidade. (JUNG, 1987a, p. 63-64, par. 142-143) |
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Figura 3 - Fonte: Saúde e Longevidade, revista da Associação Tai Chi Pai Lin, 1994, p.16. |
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Uma
história para ilustrar a vivência da unidade, e sua importância
para os taoístas: |
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O
discípulo praticava o “sentar na calma”, de repente
fica ofegante. O mestre pergunta “– O que assustou você?” O discípulo responde “– Ouvi o silêncio, mestre. Eu senti todo o meu ser difuso, como uma nuvem... depois a chuva caiu do céu através de mim. Eu fazia parte de tudo e ainda era eu mesmo.” Mestre “– Você experimentou a unidade.” Discípulo “– Sim mestre. Nesta grande alegria, porém, senti como se estivesse morrendo. Foi isso que me assustou.” O mestre leva o discípulo até uma árvore com bichos-da-seda. Mestre “– Você conhece a lição do bicho-da-seda?” Discípulo “– O bicho-da-seda morre, a borboleta vive, mesmo assim não são dois bichos separados, mas apenas um.” Mestre “– Dá se o mesmo com o homem. Suas falsas crenças devem morrer, de modo que conheça o prazer do caminho. O que você sentiu no silêncio é real. Algo dentro de você está morrendo, e chama-se ignorância.” (KUNG FU, 2005) |
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O
Tao se aproxima da idéia de Deus, mas não no sentido de
um governante antropomórfico, mas no sentido de um princípio
gerador da vida e de todos os fenômenos existentes, “O Ser,
o Tao, desdobra-se na realidade num mundo de fenômenos” (WILHELM
em TZU, 1987,p. 132) como a mãe, ou a origem de tudo, ao mesmo
tempo em que está contido em tudo, como uma força vital,
o sopro de vida, tão essencial quanto sutil, a ponto de escapulir
quando se tenta apreendê-lo até mesmo com o pensamento. É
também o sentido de tudo, de onde viemos e para onde voltaremos,
o Alfa e o Ômega. Apesar de que, por mais que se tente afastar Dele,
todos estamos inteiramente mergulhados Nele, enquanto partes integrantes
da Unidade. “o fato de não mencionarem Deus [taoísmo
e budismo] evita muita assimetria na consciência [...] o Tao-te
King, define o Tao de inúmeras maneiras, sempre cuidando em evitar
a unilateralidade, o apego e a assimetria.” (BYINGTON, 1988, p.
72) |
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Tao
significa o Absoluto, o Infinito, a Essência, a Suprema Realidade,
a Divindade, a Inteligência Cósmica, a Vida Universal, a
Consciência Invisível, o Insondável, etc. Nunca representa
um indivíduo, uma pessoa, como Deus nas teologias ocidentais. (ROHDEN,
1988, p. 13).
Como tal, o Tao representa a coincidentia oppositorum par excellence, é “nem... nem” e, simultaneamente, “tanto... como” e abrange todos os opostos, como céu e Terra, homem e mulher, claro e escuro, bem e mal, alto e baixo, grande e pequeno, longe e perto, dentro e fora, importante e insignificante, ser e não-ser, etc. Todos esses atributos formam uma totalidade paradoxal, ao mesmo tempo dinâmica e harmoniosa. Poder-se-ia dizer que todas essas coisas são conceitos relativos, mas falando-se em termos psicológicos, essa coincidentia oppositorum é justamente o que forma o dinamismo da vida e corresponde ao “caráter antinômico do eu, que como tal, tanto é conflito como unidade. (MIYUKI, 1990, p. 24) |
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Então,
temos alguns aspectos sobre o Tao: enquanto dialética entre não-existência
e também existência, ser, fenômeno, etc; enquanto totalidade,
unidade, infinito, essência, energia primordial, divindade, sincronicidade,
etc; enquanto relatividade, sentido, caminho, direção, visão
de mundo, etc; e enquanto experimentação, vivência.
Estes poucos aspectos já demonstram a abrangência a que se
refere o Tao. Uma tentativa de descrever o indescritível é o uso das metáforas, ou das artes, como a poesia por exemplo, o próprio Tao te King é composto por 81 poemas, escritos por Lao Tsé, considerado o pai do taoísmo. Uma síntese dos aspectos levantados a respeito do Tao enquanto totalidade, energia, caminho e vivência, se encontra na citação com imagens poéticas da autora abaixo, |
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[...]
o tao é como uma rede de energia em movimento contínuo,
cheia de ondulações e vibrações, como um rio
fluindo eternamente. Todos somos parte integrante dessa rede. A palavra
tao significa tanto a ordem do universo quanto o ”caminho”
para se harmonizar com essa ordem. (ALMEIDA, 2005, p. 112) |
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É
comum encontrar outras metáforas utilizadas como complementos que
especificam algumas características a respeito do Tao: o grande
Tao, o pequeno Tao, o médio Tao, o Tao do Céu, o Tao da
Terra, a Mãe, o espírito do vale, o espaço vazio
da roda, o eixo, o insondável, etc. |
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Nilton
Kamigauti - 2008 |
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